sexta-feira, 22 de junho de 2012

texto da intervenção de António Pinto Ribeiro

Amigas e amigos Vivemos um enorme mal estar neste país. O desemprego assola por todo o país, vivemos uma crise política, vivemos num estado de tristeza e de desorientação social. Os sectores culturais no qual se incluem muitos dos protagonistas do universo artístico, científico, intelectual sentem duplamente este mal-estar. Sentem-no por todos aqueles que estão também eles no desemprego, por todos os que ficaram com o seu processo de criação e de produção interrompido, por todos os que ficaram sem meios nem apoios para sobreviverem com a dignidade que é merecida a todo e qualquer cidadão. E sentem-no também porque é suposto que esta comunidade do sector cultural alargado tenha uma consciência crítica do que se passa com os seus vizinhos, os seus concidadãos, nos seus territórios de trabalho e de vida bem como nos territórios dos seus amigos, familiares, conhecidos. Sentem-no e quase sempre calados ou inactivos, com um misto de dor, de zanga, de impotência mas também, creio, de revolta. Depois de ao longo de trinta anos se ter construído um sector cultural que praticamente não existia, se terem construído infraestruturas algumas âncoras culturais das regiões, embora outras nem por isso, mas que aí estão para serem utilizadas e potencializadas, se ter criado sempre com o mínimo dos recursos uma história artística e cultural, um património de novos conhecimentos e um conjunto vastíssimo de obras de culto, eis que uma falta de preparação para os cargos governativos associada a uma agenda neo-liberal que privilegia a massificação, o mau gosto e se opõe diariamente a toda a produção cultural que seja crítica começou a destruir todo este capital tanto real como simbólico. Responsabilizar o sector cultural por gastos despropositados não só é demagógico como é irracional. Na verdade, a escolha não está entre investir na cultura ou aumentar o subsídio de desemprego ou o salário mínimo ou encerrar hospitais. A escolha está, em primeiro lugar, em advogar por uma outra economia à escala europeia com consequências nacionais. Por consequência, a opção não está entre investir nestes sectores ou insistir na compra de submarinos, abrir excepções permanentes nos salários de gestores das empresas onde o Estado participa, ou, de um modo ainda mais correcto, não fazer participar o sector cultural numa economia que não se regule pelo etnocentrismo das finanças e por um autoritarismo do Estado executado a partir de instrumentos financeiros. Porque a decisão da desvalorização da actividade artística não é financeira, ela é política e é da responsabilidade ideológica do Senhor Primeiro Ministro. Esta política neo-liberal aplicada à dimensão cultural e associada à grave impreparação cultural de quem a tem posto em prática tem contribuído para o isolamento do país a cada dia que passa – um país mais ausente nas organizações culturais e artísticas internacionais, abandonando os territórios de disputa de influência desse “soft power” que são alguns sectores culturais, abandonando a internacionalização que uma política cultural de intervenção internacional abraçaria, isolando-nos, enfim, numa periferia pequena. Apesar dos esforços e consequentes ganhos que muitos artistas, obras de culto ou investigadores têm alcançado nos territórios internacionais de intervenção, é por decisão do Governos que nós estamos, todos os dias, um pouco mais longe dos mundos a que importa pertencer. Neste momento é imperioso que um secretário de estado seja substituído por um Ministério da Cultura que devolva a dignidade ao universo cultural. Que o Ministério da Cultura tenha um gabinete capacitado tecnicamente e com o mínimo de meios para a execução mínima de uma política cultural de emergência para os próximo três anos crendo poder afirmar que muitos dos profissionais do sector cultural se comprometem a estudar meios e modelos que viabilizem novos mecanismos de financiamento aos sectores artísticos que ou pela sua natureza minoritária ou pela sua vocação internacional exijam meios que só o Estado pode considerar. O mercado não resolve a maioria das situações relativas à criação e à difusão cultural bem como à maioria de formas de conhecimento. Alguma da sua eficácia depende das áreas artísticas e da natureza do projecto. Hoje o senhor Ministro dos negócios Estrangeiros congratulava-se com o sucesso de uma artista portuguesa que expõe em Versalhes. Era importante que o Senhor Ministro soubesse que a realização desta exposição pouco deve aos Mercados. Deve-o ao reconhecimento francês da artista e às Instituições e Fundações portuguesas que só elas facilitaram a realização da exposição. Pensar a Cultura e o Futuro é em primeiro lugar reclamar pelo reconhecimento do sector cultural e da sua dignidade e profissionalização que o governo lhe merece e é depois disto pensar novas formas de sustentabilidade do sector através de novas formas de organização do próprio Ministério da Cultura e das suas Instituições, é pensar na produção artística em modelos de comparticipação mais activa de múltiplos intervenientes, é pensar em como comunicar melhor o que pode ser comunicado para que mais cidadãos se tornem espectadores, ouvintes, leitores, espectadores e assim constribuam para a sustentabilidade do acesso às diversas formas de expressões culturais para os cidadãos. É um compromisso a levar a cabo por duas partes.

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